sexta-feira, 31 de julho de 2009

Fome!


Pois que tenho vontade.
Fome!
Querência, dormência, malemolência...
Pois que quero o mundo engolir sem pensar no certo ou errado
Sem ser boa ou ruim,
Santa ou pecadora,
Fogo ou água
Quero tudo pra mim
E dar tudo de mim
Ai! que nesses dias de noite calma e silenciosa
De rotina gasta e cautelosa
Eu quero ir
Ir-me embora
Partir atrás da vida que se perdeu
Buscar da solidão a morte certa
Mas fazer o que se solidão é meu suporte
É do que sou feita
É minha força, minhas pernas no caminho
Fazer o que se é preciso que me baste olhar estrelas do quintal
E sonhar que um dia estarei longe
Que um dia serei tudo e terei tudo
Todos os mistérios da vida
Todos os gostos do mundo
Pois que tenho vontade
Fome!
Só não sei de quê.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Monólogo de um fim de tarde



O que mais posso dizer? Será que entende essas minhas manias desconexas e singulares? Essa coisa de falar através das palavras alheias, das músicas de outros? Sei que pode me entender, com algum esforço ou com nenhum, mas sei que pode.

Como eu sei? Ora! Porque vejo que sorri quando eu canto uma música sem olhar nos seus olhos. Sei que percebe que escolhi aquelas palavras pra você ouvi-las. Assisto sentimentos nos seus olhos mansos. Eles vão e vem. Como você quando está ocupado demais. Gosto de ver você fazendo suas coisas tão suas, apenas observar seu andado silencioso, e sua expressão concentrada que me faz ter vergonha de interferir. Por isso permaneço quieta te seguindo com olhos de quem gosta do que vê. E você sem saber faz com que seus momentos sejam meus também. Ou talvez você saiba!

As vezes penso em todas as coisas que já conversamos. E nas suas palavras conhecedoras do mundo. Somos tão diferentes! Já concordamos com isso. Quando? Ah, não sei ao certo. Talvez em uma dessas noites em que deitamos no tapete da sala pra ver TV e conversar. Ou talvez não! Mas o que importa o quando? Você sabe que sou distraída, que não presto muita atenção no mundo. Não, em vez disso prefiro ir por aí perdida entre estrelas, catando versos e sentidos pelas ruas sujas.

Mas sei que você me entende! Ta... Não é sempre que eu sei disso. Na verdade são raras as vezes que eu sei realmente que você entende esse meu jeito aluado. E às vezes é tudo tão certo e necessário que é impossível duvidar que você entende. Por exemplo, agora você me olha como se eu fosse uma criança que diz besteiras. Mas ao mesmo tempo enquanto eu falo do seu olhar, você sorri e me diz que gosta de mim. Você sabe que essa conversa toda foi só pra ouvir você dizer isso!

Sim, eu sei que seria mais fácil pedir. Mas você sabe que sou feita de entrelinhas. Ta admito que muitas vezes não entendo as entrelinhas mas quem é que realmente entende do que se é feito?! Não...eu tenho você pra me entender...

Agora... Diz que gosta de mim?

Também te gosto.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Abre aspas

(Ana Luiza Miranda)
Penso se há algo que possa ser feito
para marcar um coração pra sempre,
como tinta no papel.

Gaiola de vidro



Batia as asas com força transformando o silêncio em barulho infernal. O barulho vinha do corpinho batendo no vidro e do vento se mexendo por baixo das asas, mas o pássaro em si era silencioso e concentrado apenas em escapar.

Quanto empenho! Dava cabeçadas cada vez mais violentas no vidro e parecia não se importar que aquilo pudesse matá-lo. Talvez a liberdade importasse mais. Talvez valesse mais a pena morrer do que viver preso.

Fiquei assistindo aquela angústia em silêncio. Sim, poderia ter feito logo alguma coisa, mas tinha medo de chegar perto de toda aquela sede de viver, de ir embora. Preferi observar e tentar descobrir o que movia aquele pássaro.

Era bonito ver tanta luta. Tanta força gasta em ser livre novamente. Coisa rara de ser ver. Minhas mãos estavam frias e minha cabeça quente. Agora aquele barulho me machucava os ouvidos e doía saber que havia tanta vida la fora, tanto céu, tanto ar...

“Onde esta o ar que a pouco eu respirava?”

Enquanto o pássaro batia-se contra o vidro eu chorava ajoelhada, sufocada com a determinação tão grande de um ser tão pequeno. Mas não podia suportar mais. Agarrei a cadeira onde uma vez eu estive acomodada e a lancei contra o vidro, que se espatifou em vários pedacinhos incapazes de prender a mim ou ao pássaro. E este agora livre de novo subiu o mais alto que pode, me levando em direção a vida.

domingo, 5 de julho de 2009

Descompasso.


É que às vezes bate uma saudade... O ar falta enquanto o coração se aperta. O olhar perde o foco enquanto me lembro de um passado não tão distante, e tudo o que vejo é um borrão de cores causado pela água que insiste em despontar nos meus olhos. Mas ainda assim é bom lembrar. Mesmo com essa lágrima solitária que insiste em me escapar dos cílios indo molhar meu sorriso nostálgico. Tanta coisa boa que já foi. Tantos sorrisos perdidos no tempo. Tantos gritos e danças e suspiros... Tanta gente que cruzou esse meu caminho. Tudo que era pra ficar preso no passado. Mas coração que se preza é aquele que carrega dentro de si as lembranças de suas batidas antigas. Nem que seja pra sentir o descompasso quando se lembrar de um perfume, ou de um abraço.