domingo, 22 de março de 2009
Lembrança
E na rua de minha memória passou um redemoinho
Que levantou a terra já batida, Fazendo voar as folhas secas do chão.
-Arteiro esse vento- pensei comigo -Sempre acariciando as folhas como fez outrora.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Beijo de flor
Pois que todo dia o colibri vem visitar a flor...
E traz preso no bico um pedaço do céu
pra que ela possa voar enquanto se beijam.
A velha e a reza
Enquanto a mão velha segue acariciando as esferas de madeira, a boca se mexe em silêncio desfiando o rosário.
Cada conta que some na mão que o tempo beijou, desperta no olhar a esperança feliz de criança.
E a tarde segue assim. Cada conta é botão de flor que desabrocha no peito, e cada amém é promessa da vida boa que vem.
E segue a vida. Arrastada nas palavras sussurradas. Presa nas contas do rosário. Até o fim:
-Amém.
segunda-feira, 9 de março de 2009
Sobre a vida amarelo-girassol.
(Ana Luiza Miranda)
É engraçado como na nossa vida a coisa que a gente mais esquece... É de viver! O mundo nunca para de girar e o tempo passa pra qualquer pessoa que esteja nele, e passamos esse tempo inteiro procurando um jeito de viver a vida cada vez mais.
Sempre existe aquela mania feia de achar que intensidade é o oposto de rotina. Pois digo que não é assim. As pequenas coisas escondidas por trás da rotina é que são a intensidade da vida.
É como plantar um girassol, a gente sempre fica lá achando que só há o silêncio. Mas por baixo da terra acontece uma imensa agitação e cada segundo é importantíssimo pra que uma semente pequenina se torne uma flor amante do Sol e cheia de vivacidade.
E por incrível que pareça a semente só tem uma coisa que fazer na vida: Crescer! E nem por isso essa simplicidade deixa de ser linda. Nem por isso deixa de viver tudo o que há pra ela viver.
Talvez a vida seja uma semente, que acontece no silêncio das coisas (e que fique bem claro que o silêncio não é uma ausência, afinal muita coisa é dita exatamente nesse silêncio).
Ou talvez ela seja só a vida mesmo, indefinível, curta, rica e intensa por si só. Pois quando não se presta atenção na intensidade da vida é quando realmente se vive. Então se alguém procurar por mim diz que eu fui ali, plantar umas sementes de girassol.
Sempre existe aquela mania feia de achar que intensidade é o oposto de rotina. Pois digo que não é assim. As pequenas coisas escondidas por trás da rotina é que são a intensidade da vida.
É como plantar um girassol, a gente sempre fica lá achando que só há o silêncio. Mas por baixo da terra acontece uma imensa agitação e cada segundo é importantíssimo pra que uma semente pequenina se torne uma flor amante do Sol e cheia de vivacidade.
E por incrível que pareça a semente só tem uma coisa que fazer na vida: Crescer! E nem por isso essa simplicidade deixa de ser linda. Nem por isso deixa de viver tudo o que há pra ela viver.
Talvez a vida seja uma semente, que acontece no silêncio das coisas (e que fique bem claro que o silêncio não é uma ausência, afinal muita coisa é dita exatamente nesse silêncio).
Ou talvez ela seja só a vida mesmo, indefinível, curta, rica e intensa por si só. Pois quando não se presta atenção na intensidade da vida é quando realmente se vive. Então se alguém procurar por mim diz que eu fui ali, plantar umas sementes de girassol.
quinta-feira, 5 de março de 2009
Penso que...
Mentira é quando a boca sorri,mas os olhos não. E verdade é quando os olhos dão um sorriso tão bonito, que se quiser a boca nem precisa acompanhar.
O moleque
(Ana Luiza Miranda)
O moleque corre com o rosto virado pra cima. O Sol faz seus olhos se apertarem em risquinhos miúdos:
-Olha por onde anda moleque!Vai acabar trombando em alguém...
-Tem problema não! – Ele grita de volta com um sorriso travesso – Eu não posso é perder essa!
O povo sorri do moleque que desce a ladeira. Peito nu estufado, furando a barreira do vento. Os olhos brilhando e os braços abertos à espera do presente que vinha dos céus.
Pois veio. Caindo devagarinho embalado com doçura pela brisa, direto pras mãos do menino que sorria como quem tem o mundo nas mãos. Cheio de cor e beleza...
E mais bonito ainda, era ver o moleque voltar correndo feliz da vida gritando:
-Ta na mão! Ta na mão!
-Olha por onde anda moleque!Vai acabar trombando em alguém...
-Tem problema não! – Ele grita de volta com um sorriso travesso – Eu não posso é perder essa!
O povo sorri do moleque que desce a ladeira. Peito nu estufado, furando a barreira do vento. Os olhos brilhando e os braços abertos à espera do presente que vinha dos céus.
Pois veio. Caindo devagarinho embalado com doçura pela brisa, direto pras mãos do menino que sorria como quem tem o mundo nas mãos. Cheio de cor e beleza...
E mais bonito ainda, era ver o moleque voltar correndo feliz da vida gritando:
-Ta na mão! Ta na mão!
quarta-feira, 4 de março de 2009
Chuva
E um dia o céu se apaixonou.
E sem muita demora tratou de reunir todas as nuvens que tinha pra se desmanchar em beijos molhados.
A bailarina
(Ana Luiza Miranda)
A bailarina rodopiava no palco toda enfeitada de fitas, com seu vestido bordado de pedrinhas cintilantes. Mas lindo mesmo, era o jeito como a luz batia nas pedrinhas pra depois refletir todas as cores em volta dela. Rosa, verde, azul, amarelo... Todas as cores!
Assim era a bailarina, feita da luz mais bonita que existia.
E ela dançava charmosa na pontinha dos pés como se cordas suspendessem-na do chão. E saltava como se fosse ao trampolim. E sorria como se fosse pra um grande amor. E voava... Como se tivesse asas.
Mas, curioso, não havia música... Apenas a tímida voz:
-1, 2, 3... 1, 2, 3...
Sempre repetindo, o mesmo ritmo, o mesmo tom. Até que alguém resolveu perguntar:
-Linda bailarina, como pode ser dançar sem música?
-Mas há música... –Ela disse descendo das pontas – Bem aqui dentro de mim...
Olharam para seu rosto bonito e seu olhar brilhava mais que as pedrinhas do vestido. Como era linda a bailarina!
-E como você sabe que está dançando certo?
-Ora... Não há como perder o compasso quando se dança a música do coração!
Assim era a bailarina, feita da luz mais bonita que existia.
E ela dançava charmosa na pontinha dos pés como se cordas suspendessem-na do chão. E saltava como se fosse ao trampolim. E sorria como se fosse pra um grande amor. E voava... Como se tivesse asas.
Mas, curioso, não havia música... Apenas a tímida voz:
-1, 2, 3... 1, 2, 3...
Sempre repetindo, o mesmo ritmo, o mesmo tom. Até que alguém resolveu perguntar:
-Linda bailarina, como pode ser dançar sem música?
-Mas há música... –Ela disse descendo das pontas – Bem aqui dentro de mim...
Olharam para seu rosto bonito e seu olhar brilhava mais que as pedrinhas do vestido. Como era linda a bailarina!
-E como você sabe que está dançando certo?
-Ora... Não há como perder o compasso quando se dança a música do coração!
terça-feira, 3 de março de 2009
De repente
(Ana Luiza Miranda)
E de repente a gente percebe que encontrou o infinito. É o infinito... Esse cheio de “pra sempre” que a gente ouve falar, mas também só ouve mesmo, porque saber ao certo o que é sempre é mais difícil.
Sempre me perguntei quanto valia o infinito, mas nunca me respondi... Sei que fui injusta comigo, mas dava medo de responder, mesmo que a resposta fosse um chute daqueles bem dados. Mas, mesmo assim, prefiro nem chutar a resposta dessa pergunta, sabe lá, vai que eu acerto.
E o infinito eu quero que seja sempre assim, um mistério que na verdade é bem simples. Afinal, o mundo é muito simples. Como tudo o que eu sinto, aqui dentro, no meu infinito.
Mas já vou avisando que descobrir esse infinito todo dentro de você às vezes incomoda. É porque ele ocupa um espaço muito grande, por ser justamente... Um infinito! E ele sempre quer crescer mais e mais... Nas horas mais incríveis!
Outro dia eu estava olhando o Sol se pôr, e justamente nesse momento caía uma chuva fina e gelada, fazendo o gosto da terra se meter a cheiro e vir brincar no meu nariz. Lá dentro alguém gritou:
-Sol com chuva, casamento de viúva!
Eu sorri feliz da vida pela viúva, e aí olhei pro céu laranja-pôr-de-Sol e senti a chuva gelada no meu rosto. Pronto! Foi o suficiente pra começar a sentir algo dentro de mim crescendo. E cresceu tanto que fez meus olhos se encherem de água.
Água cor de chuva e com gosto de mar.
Mas, depois a dor parou e eu já havia me esquecido dela. Só conseguia me lembrar de uma viúva que se casou e mandou pintar o mundo de um laranja tão bonito que fez meu infinito crescer de tanta admiração e meus olhos choverem pra combinar.
Ah! Mas o meu infinito chorou também! Só que quando ele chora, não é água que sai não, são palavras. E eu descobri que gosto das palavras. Por que elas são a língua do infinito que há em mim.
Sempre me perguntei quanto valia o infinito, mas nunca me respondi... Sei que fui injusta comigo, mas dava medo de responder, mesmo que a resposta fosse um chute daqueles bem dados. Mas, mesmo assim, prefiro nem chutar a resposta dessa pergunta, sabe lá, vai que eu acerto.
E o infinito eu quero que seja sempre assim, um mistério que na verdade é bem simples. Afinal, o mundo é muito simples. Como tudo o que eu sinto, aqui dentro, no meu infinito.
Mas já vou avisando que descobrir esse infinito todo dentro de você às vezes incomoda. É porque ele ocupa um espaço muito grande, por ser justamente... Um infinito! E ele sempre quer crescer mais e mais... Nas horas mais incríveis!
Outro dia eu estava olhando o Sol se pôr, e justamente nesse momento caía uma chuva fina e gelada, fazendo o gosto da terra se meter a cheiro e vir brincar no meu nariz. Lá dentro alguém gritou:
-Sol com chuva, casamento de viúva!
Eu sorri feliz da vida pela viúva, e aí olhei pro céu laranja-pôr-de-Sol e senti a chuva gelada no meu rosto. Pronto! Foi o suficiente pra começar a sentir algo dentro de mim crescendo. E cresceu tanto que fez meus olhos se encherem de água.
Água cor de chuva e com gosto de mar.
Mas, depois a dor parou e eu já havia me esquecido dela. Só conseguia me lembrar de uma viúva que se casou e mandou pintar o mundo de um laranja tão bonito que fez meu infinito crescer de tanta admiração e meus olhos choverem pra combinar.
Ah! Mas o meu infinito chorou também! Só que quando ele chora, não é água que sai não, são palavras. E eu descobri que gosto das palavras. Por que elas são a língua do infinito que há em mim.
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