quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Amizade, música e um momento recortado.


Eu e ele no Parque. Por Ana Luiza Miranda


Ouço a música e nunca me esqueço do calor que ela transmite. Todas aquelas notas soltas que quando se encontram no seu coração fazem o passado, presente e futuro virarem a mesma coisa e pararem quietinhos pra assistir o espetáculo que é ele tocando. Mesmo que esteja tocando nada.

Eu o conheço.

As mãos, de dedos longos e delicados engolem as cordas do instrumento e fazem vibrar o ar em volta daquele momento nosso. Os dedos tem as juntas grossas, as unhas largas e curtas e no fim aqueles calos. “Sou um moço trabalhador” ele sempre brinca.

E os olhos. Olham. Para mim e para o nada ao mesmo tempo. Não olham os meus olhos castanhos, mas algo além deles, como se procurassem dentro de mim a próxima nota. E quando acham decoram-na dentro do coração dele e a jogam no ar pra que meus olhos e ouvidos a vejam e a transmitam para o meu coração.

Eu o conheço. Tanto que posso fechar os olhos e ouvir a brincadeira dele com a música. Fechar os olhos e vê-lo com o coração. E ele me conhece.

E nós nos conhecemos tanto que num olhar podemos tocar e cantar e dançar com a música que o coração do outro toca. Mesmo que sejam notas soltas. Mesmo que seja o silêncio.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Vento


Estava sentada no banco, quando em meio a pressa rotineira das pessoas senti Deus me fazendo carinho no rosto.

Digressões


Assisto minha vida e relato pintando com poesia e prosa. Mas não se engane pois apesar de ser narradora de minha história, eu vivo. E tomo posse. Porque há jeito de ser viver e contar, tudo ao mesmo tempo, tudo ao mesmo fôlego, na mesma voz. Sempre há jeito de se participar daquilo que se assiste e juntar a cor do que se vê,com a cor do que se vive e transformá-la em uma narração de outra cor.

Em alguns momentos eu quero só viver, em outros só narrar... Mas o fato é que a minha participação na história se torna sempre impressindível. Sem narrador a história fica cansativa. Porque provavelmente se apoiará em diálogos. E silêncios são necessários. E sem personagem o narrador perde o sentido.

E não falo de narradores do passado, esses que geralmente se vêem por aí. Falo de narradores do passado, presente e futuro! Visto que o tempo é coisa que confunde a vivência da gente. Ata e desata os nós e tempera o que tomamos por vida.

É, eu faço assim. Vivo a história que eu mesma canto. Pintada de poesia e prosa... Mergulhada numa frequente digressão.