quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Amizade, música e um momento recortado.


Eu e ele no Parque. Por Ana Luiza Miranda


Ouço a música e nunca me esqueço do calor que ela transmite. Todas aquelas notas soltas que quando se encontram no seu coração fazem o passado, presente e futuro virarem a mesma coisa e pararem quietinhos pra assistir o espetáculo que é ele tocando. Mesmo que esteja tocando nada.

Eu o conheço.

As mãos, de dedos longos e delicados engolem as cordas do instrumento e fazem vibrar o ar em volta daquele momento nosso. Os dedos tem as juntas grossas, as unhas largas e curtas e no fim aqueles calos. “Sou um moço trabalhador” ele sempre brinca.

E os olhos. Olham. Para mim e para o nada ao mesmo tempo. Não olham os meus olhos castanhos, mas algo além deles, como se procurassem dentro de mim a próxima nota. E quando acham decoram-na dentro do coração dele e a jogam no ar pra que meus olhos e ouvidos a vejam e a transmitam para o meu coração.

Eu o conheço. Tanto que posso fechar os olhos e ouvir a brincadeira dele com a música. Fechar os olhos e vê-lo com o coração. E ele me conhece.

E nós nos conhecemos tanto que num olhar podemos tocar e cantar e dançar com a música que o coração do outro toca. Mesmo que sejam notas soltas. Mesmo que seja o silêncio.

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